A edição deste ano do Prêmio Montezuma de Comunicação tem
como tema o cinquentenário do Tropicalismo, que vai inspirar não apenas a criação
da logomarca e demais itens da personalidade gráfica do evento, mas inclusive o
figurino, decoração e o próprio clima da festa de premiação, marcada para o
próximo 1º de março. O evento acontecerá no auditório do Centro de Artes,
Humanidades e Letras, na cidade de Cachoeira, e vai destacar a produção laboratorial dos estudantes dos
cursos de Publicidade e de Jornalismo da UFRB.
Mhayla Barbosa
Guimarães e Rafique Reis
O
Movimento Tropicalista, surgido no final dos anos 1960 e encabeçado por figuras
como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e a banda Mutantes,
representa uma tempestade cultural
que se posicionou à revelia dos moldes de concepção artística e estética do
Brasil daquela época.
Contemporânea
a um contexto nacional de censura e governo autoritário, ao mesmo passo em que
observava também os relevantes avanços tecnológicos no cenário internacional, além
dos desdobramentos políticos do pós-guerra e seus tensionamentos ideológicos, a
Tropicália se preocupava, basicamente, em lançar à sociedade uma poética de conteúdo
subversivo e inovador, no qual se transavam cores, nomes e comportamentos encarados
como agressivos pelos conservadores da conjuntura.
Panis
et Circensis
Em
1990, concedendo entrevista ao extinto programa Ensaio da TV Cultura, Tom Zé, baiano de Irará, consegue definir com
precisão cirúrgica o que representou o Tropicalismo para a juventude daquele
tempo. Segundo o artista, compositor da canção Parque Industrial - presente no disco Panis et Circensis, o
mais importante do período e que demarca as bases para a construção do
movimento é que “o tropicalismo é toda a
vontade de conhecer o mundo”.
Necessariamente,
este anseio intenta levar ao cenário do período ideias e atitudes culturais externas
ao regionalismo nacional, porém sem nunca desprezá-lo. O cancioneiro tropicalista,
enriquecido pelas poéticas de autores como Capinam e Torquato Neto, revoluciona
de forma surpreendente o modo de composição no Brasil.
Das
letras até os arranjos – assumidos pelo maestro Rogerio Duprat – houve uma
imersão da canção no caldeirão universal que via o nascimento de grandes álbuns
de grupos internacionais, com destaque para o britânico The Beatles. Tudo isto severamente criticado pelos artistas mais tradicionalistas
da conjuntura, os quais direcionavam vigorosamente suas atenções contra os
ditos “símbolos de descaracterização da identidade nacional”.
Terra
em transe
Entretanto,
o movimento Tropicalista não se limitava ao mundo da música, definindo outras
modalidades de linguagem, de comunicação. Desde as roupas utilizadas pelos
agentes desta dinâmica transgressora, adotada também pelo movimento hippie de
contracultura, até a arte gráfica, produzida principalmente por Rogério Duarte
- além de artística plástico, escritor e poeta, militante contra a ditadura
militar – que por destaque se pode citar a capa do disco Caetano Veloso, de 1968.
No âmbito
cinematográfico, o também baiano Glauber Rocha foi o expoente. Seu filme Terra em Transe, de 1967, se configura,
junto com as canções apresentadas por Gil e Veloso – que escreve sobre a importância
do cineasta em seu livro Verdade Tropical
- no festival da Record do mesmo ano, como fundamento intelectual do
movimento.
Alguns
historiadores apontam a demarcação do fim da ebulição tropicalista em 1968, a
partir da prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso, enquadrados no Ato
Institucional número 5, validado no governo rígido de Costa e Silva.
Entretanto, pode-se constatar que a força vital da Tropicália não fora extinta,
pelo contrário, mostra-se ainda bastante
viva e influenciadora das discussões de liberdade e produções artísticas
atuais.
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